Quando sonhava em ser mãe, me imaginava sentada em uma confortável poltrona, lindamente instalada em um quarto de criança, com os meus dois pequenos no colo – um em cada perna, atentamente me ouvindo ler um livrinho infantil escolhido a dedo. É claro que eles já estariam vestidos com fofos pijamas de flanela pois, ao final da estória, eu os colocaria na cama e, com um beijo, diria um carinhoso “boa noite” para apenas reencontra-los no outro dia, com um lindo sorriso de “bom dia”.
A realidade é que o Nícolas nunca me deixou ler nem um livrinho para ele. O seu interesse não vai além da primeira página e, enquanto eu insisto em ler a estória e ele me convence que ele já sabe ler sozinho, Cecília, sentada no chão, tenta arrancar o coelhinho do último livrinho que acabei de comprar, ou tira todas as roupas do armário ou, com cara de quem está fazendo algo muito importante, tenta calçar o tênis do Nicolas, que está espalhado pelo quarto, junto com outros brinquedos que desisti de guardar. O “boa noite” vem sempre acompanhado de um “fica aqui no quarto só um pouquinho, mamãe” e antes do alegre “bom dia” a Cecília acorda muitas vezes porque perdeu o bico, ou porque quer leitinho ou simplesmente porque ficou com saudades e precisa de um colo para dormir de novo.
Por outro lado, na minha ainda curta jornada como mãe, já vivi coisas que eu nunca nem ousaria sonhar. As mães vão saber do que falo. É “insonhável” a imensa felicidade que sentimos quando ouvimos, pela primeira vez, o choro forte e estridente do nosso bebê e descobrimos, em um instante, que nunca mais seremos as mesmas. Da mesma forma, é impossível sonhar com a paz que sentimos quando, no silêncio da madrugada, amamentamos aquele minúsculo ser, vendo transbordar o leite na mesma medida em que transborda o amor. É “insonhável” a alegria que sentimos ao ver que aquele bebê já consegue pular de um pé só, estalar os dedos ou atravessar a piscina nadando “cachorrinho”. Eu jamais poderia sonhar em como é bom ver meus filhos brincando juntos, imitando um ao outro, fazendo barulhos engraçados e dando gargalhadas. E ainda tem o doce “mamãe” da Cecília e o seu ainda mais meloso “papai”, a almofada “contotável” (confortável) do Nicolas, o seu jogo de “chutebol” (futebol) e muitas “picocas” (pipocas) espalhadas pela casa. Ninguém pode sonhar em como é doce ouvir as primeiras palavras dos filhos!
Entre os meus sonhos e a realidade, fico com a realidade – mesmo que mais barulhenta e muito, muito mais “baguncenta”!